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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

FANTOCHE DE DEUS



   Neste tempo de Quaresma, ouso pedir a Deus que me ajude a dizer só a verdade, a criar só a beleza e a fazer só  o bem.
   Dizer a verdade é muito difícil hoje em dia. Ela se tornou a  inimiga pública número um. Onde quer que apareça, é perseguida. Marqueteiros regiamente pagos a odeiam.  Professores universitários a relativizam. Empreiteiros se reúnem com ministros para ocultá-la a qualquer preço. A verdade não pode mais andar sozinha na rua sem o risco de ser arrastada e violentada. Mas não tenho outra saída: dizê-la é meu ofício, o meu destino, a minha cruz.
   Criar a beleza virou coisa feia. Dizer que um concerto de Bach vale mais do que todos os enredos de uma escola de samba é um crime contra a cultura popular brasileira. Um grafite de rua equivale a um quadro de Caravaggio. Para se criar beleza, é preciso antes admirá-la, mas o exercício da admiração hoje se tornou praticamente um ato clandestino.
   Fazer o bem não é nada fácil. Ajudar uma pessoa sem esperar nada em troca, dar uma esmola, conversar com um velho ou uma criança, conceder a atenção a um solitário – tudo isso costumeiramente é interpretado como demagogia ou hipocrisia.
   A crise que o País atravessa hoje é a do rompimento entre estes três valores fundamentais . A nossa doença tem origem espiritual: o coração do Brasil se parece com um templo incendiado com cinzas em forma de mentira, feiúra e maldade.
   Outro dia fui ridicularizado quando disse ser a favor de um capitalismo com compaixão e de uma democracia temente a Deus. Por conta de opiniões  semelhantes, um dia alguém me chamou até de “fantoche do títere”, Adorei essa alcunha! É exatamente o que eu sou. Em última instância, não passo de fantoche daqueles que procuro imitar  ( sem conseguir ): Padre Pio de Pietreicina , Teresinha do Menino Jesus, Maximiliano Kolbe, Edith Stein, José Kentenich. Eles, por sua vez, são títeres da vontade de Deus. Disseram a verdade, criaram a beleza e fizeram o bem. De que mais um homem precisa?  ( Texto de PAULO BIRGUET,   
briguet@jornaldelondrina.com.br   WWW.jornaldelondrina.bom.br/blogs/comoperdaodapalavra  , página 6, espaço Dia de crônica, publicação do JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira,23 de fevereiro de 2015) .

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