Je suis Charlei. E se não era antes, seria
agora. Sou Charlei, sou todos os jornalistas, sou todos os policiais que lutam
pela verdade, justiça e correção. Sou e quem não é? Quem aceita, em pleno século 21 que, em nome de
discordância de ordem política, religiosa, social, ou qualquer outra, alguém
tire a vida de outra pessoa?
Queremos paz! Queremos ver as
pessoas em congraçamentos, ainda que nossos deuses sejam vistos de maneiras distintas: ainda que os políticos que
defendemos sejam o oposto do que outros defendem: ainda que nossas idéias sejam opostas. Isto porque o outro é outro e
não é nossa imagem e semelhança. O outro
pensa diferente, sente diferente, tem uma vivência particular, que lhe dá
peculiaridades que nem sempre entendidas por nós. Mas entender ou não é uma
questão da nossa possibilidade de compreensão. Não se trata de considerar
abominável tudo o que é diferente do que
somos e pensamos.
Em nome da nossa justiça, daquilo
que cremos, não temos o direito de fazer justiça a nosso modo. Há a justiça de
cada país. Há justiça internacional, aquela de caráter mundial, que contempla
os direitos universais. Na medida em que deixamos de lado o direito constituído
para a realização de justiça pessoal, isso passa a ser antijustiça.
Quero estar do lado da paz. Quero
estar do lado dos que sofrem atrocidades. Quero estar do lado da liberdade. Por
querer isso, hoje chorei de dor. A dor de quem vê a possibilidade do mundo ir se encurtando, ir se fechando, ir se
calando pelas armas. Cadê nossa humanidade? Que humanidade tem sido essa de
desconsiderar o humano?
Que fazer para mudar esse quadro?
Sendo gente! Sendo humano! Há que ser melhor para ultrapassar o mal. Que a
maldade cometida contra essas pessoas, que foram atacadas na última
quarta-feira em Paris, nos faça melhores, mais fortes, mais solidários mais
resistentes. Que nosso brado contra a injustiça seja mais forte! Que o silêncio
das mortes seja quebrado pelo grito pela vida! Com lápis e papel na mão! Com um
computador e nada mais. É nesse ambiente que reconhecemos os fortes. Estes
estão onde o pensar está. Estão onde existe a capacidade de amar, de fazer
humor, de reconfigurar idéias em prol de
um mundo melhor.
Esse pensar em prol de uma sociedade
melhor com humor e com arte sempre haverá. Os que assim agem são movidos pela
sensibilidade, pela delicadeza com o
outro, pela genialidade do traço, do movimento, do gesto, da voz. É nesses que
acredito, visto que precisam de apenas da arte para mobilizar o mundo. É desses
que o mundo precisa. São essas perdas que o mundo lamenta.
Nenhuma arma tira esses seres de circulação.
Suas idéias continuam, visto que a vida se vai, mas a história continua... E a
história que o mundo quer é de paz! Nada de armas! Apenas lápis e pape l na
mão. É assim que a história é escrita! Ria
quem puder, chore quem precisar, entenda quem souber. ( Texto escrito por LUCINEA A. REZENDE,
professora do departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina, ESPAÇO
ABERTO, PAG 2, publicado pela FOLHA DE LONDRINA, sexta-feira, 9 de janeiro de
2015).
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