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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

“JE SUIS CHARLIE"

      Je suis Charlei. E se não era antes, seria agora. Sou Charlei, sou todos os jornalistas, sou todos os policiais que lutam pela verdade, justiça e correção. Sou e quem não é? Quem aceita,  em pleno século 21 que, em nome de discordância de ordem política, religiosa, social, ou qualquer outra, alguém tire a vida de outra pessoa?
     Queremos paz! Queremos ver as pessoas em congraçamentos, ainda que nossos deuses sejam vistos de maneiras  distintas: ainda que os políticos que defendemos sejam o oposto do que outros defendem: ainda que nossas idéias  sejam opostas. Isto porque o outro é outro e não é  nossa imagem e semelhança. O outro pensa diferente, sente diferente, tem uma vivência particular, que lhe dá peculiaridades que nem sempre entendidas por nós. Mas entender ou não é uma questão da nossa possibilidade de compreensão. Não se trata de considerar abominável  tudo o que é diferente do que somos e pensamos.
     Em nome da nossa justiça, daquilo que cremos, não temos o direito de fazer justiça a nosso modo. Há a justiça de cada país. Há justiça internacional, aquela de caráter mundial, que contempla os direitos universais. Na medida em que deixamos de lado o direito constituído para a realização de justiça pessoal, isso passa a ser antijustiça.
     Quero estar do lado da paz. Quero estar do lado dos que sofrem atrocidades. Quero estar do lado da liberdade. Por querer  isso,  hoje  chorei de dor. A dor de quem vê  a possibilidade do  mundo ir se encurtando, ir se fechando, ir se calando pelas armas. Cadê nossa humanidade? Que humanidade tem sido essa de desconsiderar o humano?
     Que fazer para mudar esse quadro? Sendo gente! Sendo humano! Há que ser melhor para ultrapassar o mal. Que a maldade cometida contra essas pessoas, que foram atacadas na última quarta-feira em Paris, nos faça melhores, mais fortes, mais solidários mais resistentes. Que nosso brado contra a injustiça seja mais forte! Que o silêncio das mortes seja quebrado pelo grito pela vida! Com lápis e papel na mão! Com um computador e nada mais. É nesse ambiente que reconhecemos os fortes. Estes estão onde o pensar está. Estão onde existe a capacidade de amar, de fazer humor, de reconfigurar  idéias em prol de um mundo melhor.
     Esse pensar em prol de uma sociedade melhor com humor e com arte sempre haverá.  Os que assim agem são movidos pela sensibilidade, pela delicadeza  com o outro, pela genialidade do traço, do movimento, do gesto, da voz. É nesses que acredito, visto que precisam de apenas da arte para mobilizar o mundo. É desses que o mundo precisa. São essas perdas que o mundo lamenta.
     Nenhuma arma tira esses seres de circulação. Suas idéias continuam, visto que a vida se vai, mas a história continua... E a história que o mundo quer é de paz! Nada de armas! Apenas lápis e pape l na mão. É assim que a história é escrita!  Ria quem puder, chore quem precisar, entenda quem souber.  ( Texto escrito por LUCINEA A. REZENDE, professora do departamento de Educação da  Universidade Estadual de Londrina, ESPAÇO ABERTO, PAG 2, publicado pela FOLHA DE LONDRINA, sexta-feira, 9 de janeiro de 2015).

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