É realmente estranho sentir-se jovem e, ao
se olhar no espelho, se deparar com uma senhora de 58 anos... Chega a ser
chocante, e até meio angustiante, esta
colisão entre o que se sente e o que se vê. Não digo que a gente não sinta os efeitos da
idade, mas mesmo assim não posso evitar sentir-me impactada ao encontrar esta
mulher tão mais velha do que eu me sinto...
Talvez a minha juventude “subjetiva” venha
dos meus olhos – e não só do seu brilho, mas do seu olhar, do jeito em que enxergam
o mundo – talvez do fato de ter tantos planos, sonhos e objetivos.
Talvez por me manter ainda tão ativa e criativa ( apesar de que tem vezes
que me custa um pouco, preciso admiti-lo). Talvez por me sentir apaixonada,
empolgada, feliz com o que tenho, com o que consegui, com que sou e faço.
Pode ser também que a juventude que sinto
em mim venha dessa vontade de ajudar. De
aprender, de crescer, de procurar e vivenciar a felicidade, de curtir o tempo,
os encontros, as lições. Sinto que ainda vive em mim aquela garotinha atenta e
magicamente surpresa pelos milagres de cada dia, que aguarda com fé e conversa
com Deus sem fórmulas nem receios.
Apesar da
experiência , a dor e uma certa crueldade e calculismo que o tempo possa ter me trazido, sei que ainda conservo um alto grau de
inocência e ludicidade, que tornam minha vida
otimista e aberta à aventura, à exploração, à novidade do banal e das
pequenas coisas.,,
Então, com toda essa carga interior, que
sei se reflete em minhas atitudes, é sumamente estranho me olhar no espelho e ver esta senhora olhando para mim com
aquela cara de surpresa. Porque meu coração diz uma outra coisa, com certeza.
Em quem devo acreditar, então?
Pois
sem importar o que sinta, o fato é que o tempo passa e é desse jeito que
apareço para o mundo. Então me pergunto, olhando no fundo dos meus olhos brilhantes no espelho no
fim, quem ganhará? É claro que não se pode esquivar a morte, mas suponho que
não é isso que importa e sim como
enfrentá-la... Então, que venha
gentilmente e me leve, num abraço reconfortante e cheio de promessas, com a
certeza de um reencontro com aqueles que
amei.
Será que todos os que estão ficando velhos
têm este tipo de pensamentos? Tomara que sim, porque são muito reconfortantes. ( Crônica escrita por PAZ ALDUNATE,
professora, escritora e artista plástica em Santiago, Chile – publicado na
Folha 2 do jornal FOLHA DE LONDRINA,
quarta-feira, 24 de Setembro de 2014)
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