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domingo, 2 de dezembro de 2018

DESPEDINDO-ME AGRADECIDO



   Agradeço sensibilizado as visitas, comentários  recebidos.
   Hoje tomei a decisão de desativar as publicações e o meu blog "DESABAFOS DE JOSÉ ROBERTO" Tenho recebido algumas notificações nada agradáveis. Todas publicações por mim postadas, faço questão de colocar a FONTE (nome, dia da publicação da matéria transcrita, bem como o veículo. Os meus escritos tem minha assinatura.
   Quero desejar a todos vocês toda a felicidade e saúde para o ano próximo vindouro de 2019 e muito sucesso em todas as áreas de atuação.
Sejam felizes o o meu muito obrigado pelo apoio e apreço;



José Roberto Espindola Filgueiras, 2 de dezembro de 2018.

AS ÁRVORES TAMBÉM SE DESPEDEM


   Era uma árvore sem muita nobreza, daquelas a que chamamos Santa Bárbara e que, ludicamente, derramam bolinhas na calçada. 
   Nos últimos doze anos a vi da janela. Não era velha, a julgar pelo diâmetro dos troncos, era como uma destas moças espevitadas que crescem além da conta, oferecendo sombra a quem procura sua companhia. 
   Muitas vezes, da janela do meu quarto, agradeci àquela árvore por proteger a casa do movimento da avenida, da vista do asfalto, do trânsito ininterrupto, dos carros feitos e dos homens sérios. Ela era um reduto de pássaros e de poesia. 
   Na terça-feira vi pela última vez seus galhos encobrindo parcialmente a lua e pensei como quem recebe um aviso: “Tomara que nunca cortem esta árvore”. Ao mesmo tempo em que refletia: “não sou sua dona” e me inquietava pelo seu destino. 
   Na quarta-feira, ali pelo meio-dia, percebi um movimento diferente a uns cinquenta metros da janela, onde um terreno baldio me separava da árvore que começava a ser preparada para o sacrifício. Vieram os homens da prefeitura, com seus uniformes, seus equipamentos e uma ordem expressa: “Cortem a árvore”. Tentei um diálogo. “Mas quem pediu para que ela seja cortada?” Disseram: “O dono do terreno vai construir”.
   Fiz um gesto explicando que intercederia pelo telefone e, como de praxe, encaminhei meus protestos às seções competentes, onde os argumentos são sempre técnicos e frios. Nestes casos, os decretos de morte são irrevogáveis e não há defesa que paralise funcionários, caminhões, machados, serras elétricas e cordas, tudo bem colocado para derrubar a árvore comum, a que não tem nobreza nem espécie que mereça algum tipo de exceção.
   Primeiro amarraram seus galhos, para que não caísse sobre as pessoas quando recebessem os golpes. Fragilizada, mas ainda alta e enfolhada, ela balançava ao vento o que sobrava, exibindo aos poucos uns cotos onde existiram braços. Um golpe, dois golpes, cem golpes e já não existiam galhos, nem folhas, nem ninhos. 
   Ela agonizava transformando-se de árvore em tronco ,duro e seco , como a paisagem dos desertos que rendem tristes fotografias. Sua vivacidade cedia ao espectro de uma paisagem melancólica. Lembrava um espantalho, quem sabe um ser humano apavorado com as lâminas, as cordas, o guindaste que levantava seus membros fracionados, até exibir no ar o núcleo do tronco, como um coração. 
   Não contentes, os homens a reduziram em pedaços que recolheram sobre o caminhão para virar lenha. Em três horas havia uma árvore a menos na paisagem onde o asfalto queimava e o lago brilhava mais intensamente, como se o fogo tomasse a terra de repente. O bairro ficou mais triste. Nos golpes finais evitei olhar pela janela. Por doze anos tive a companhia de uma portentosa Santa Bárbara que, na véspera do corte, despediu-se encobrindo parcialmente a lua. Não tenho outra explicação para aquele pensamento: “E se cortarem a árvore?” Meu receio era a intuição da partida, como se homens e árvores, enfim, se comunicasse. 
* Crônica de 2010 republicada nesta edição. (FONTE: Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com , caderno FOLHA 2, página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 1 e 2 de dezembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).